Dia do Trabalhador- 1 de Maio


A lógica do capitalismo industrial, virada para a obtenção de lucro e para o investimento, não se compadece com os problemas sociais que está a gerar nomeadamente no que respeita às condições de trabalho, mais precisamente ao horário laboral.Trabalhava-se de sol-a-sol, como os agricultores.
Alguns reformadores sociais começavam a propor a redução das horas de serviço, surgindo a ideia de dividir o dia em três períodos: oito horas de trabalho, oito horas de sono e oito horas de lazer e estudo, proposta que, como sempre, era vista como utópica pelos empregadores.Com o desenvolvimento do associativismo operário, e particularmente do sindicalismo, a proposta da jornada de oito horas tornou-se um dos objectivos centrais das lutas operárias e também causa de violentas repressões e de inúmeras prisões e até morte de trabalhadores.
Na sequência de tais reivindicações os trabalhadores de Chicago e de outras cidades americanas, organizam uma manifestação, no dia 1 de Maio de 1886, nas ruas de Chicago, com o objectivo de reivindicarem a redução da jornada de trabalho para 8h diárias, tendo como resposta a repressão por parte das autoridades, acabando alguns manifestantes por perder a vida. A violência não intimidou as reivindicações que voltam a manifestar-se nos dias seguintes obtendo sempre a mesma reacção, morte e prisão dos activistas. Esta luta acabou por envolver a solidariedade operária internacional que assim pressionou o governo americano para ponderar a sua actuação e libertar os manifestantes presos. No seguimento desta luta, três anos mais tarde, a 20 de Junho de 1889, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu por proposta de Raymond Lavigne convocar anualmente uma manifestação com o objectivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. Em 1 de Maio de 1891 uma manifestação no norte de França é dispersada pela polícia resultando na morte de dez manifestantes. Esse novo drama serve para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional Socialista de Bruxelas proclama esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais.
Apesar de mundialmente assinalado o Dia do Trabalhador, nem todos os países o comemoram no mesmo dia, assim, a Espanha celebra a 18 de Julho, os Estados Unidos na primeira segunda - feira de Setembro , na Austrália a comemoração varia consoante a região , tanto pode ser em Março ,como em Maio ou Outubro. Em Portugal, durante o período do Estado Novo, foram proibidas as comemorações do 1º de Maio, inevitavelmente associadas a reivindicações operárias, que o estado corporativo queria impedir, só com a revolução de 25 de Abril de 1974 se retomaram, sendo nesse 1º de Maio após a revolução que se encontraram, no mesmo comício, os líderes da oposição, então regressados do exílio. Álvaro Cunhal e Mário Soares.
Apesar das conquistas operárias, muito está ainda por conseguir ou pelo menos para defender o que já se adquiriu, por isso está data continua com a mesma actualidade, pois os direitos não são definitivos é preciso estar atento para zelar por eles!...

Cristalizações – Cesário Verde
A Bettencourt Rodrigues, meu amigo.

Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros,

Vibra uma imensa claridade crua.

De cócoras, em linha os calceteiros, Com lentidão, terrosos e grosseiros,

Calçam de lado a lado a longa rua.


Em pé e perna, dando aos rins que a marcha agita,

Disseminadas, gritam as peixeiras;

Luzem, aquecem na manhã,

Uns barracões de gente pobrezita

E uns quintalórios velhos, com parreiras.


Não se ouvem aves; nem o choro duma nora!

Tomam por outra parte os viandantes;

E o ferro e a pedra - que união sonora! -

Retinem alto pelo espaço fora,

Com choques rijos, ásperos, cantantes.


Bom tempo. E os rapagões, morosos, duros, baços,

Cuja coluna nunca se endireita,

Partem penedos. Voam-lhe [sic] estilhaços.

Pesam enormemente os grossos maços,

Com que outros batem a calçada feita.


A sua barba agreste! A lã dos seus barretes!

Que espessos forros! Numa das regueiras

Acamam-se as japonas, os coletes;

E eles descalçam com os picaretes

Que ferem lume sobre pederneiras.


E neste rude mês, que não consente as flores,

Fundeiam, como esquadra em fria paz,

As árvores despidas. Sóbrias cores!

Mastros, enxárcias, vergas!Valadores

Atiram terra com as largas pás...


Eu julgo-me no Norte, ao frio - o grande agente!

Carros de mão que chiam carregados,

Conduzem saibro, vagarosamente;

Vê-se a cidade, mercantil, contente:

Madeiras, águas, multidões, telhados!


Mal encarado e negro, um pára enquanto eu passo;

Dois assobiam, altas as marretas

Possantes, grossas, temperadas de aço;

E um gordo, o mestre, com ar ralaço

E manso, tira o nível das valetas.

Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas!

Que vida tão custosa! Que diabo!

E os cavadores descansam as enxadas,

E cospem nas calosas mãos gretadas,

Para que não lhes escorregue o cabo.


Povo! No pano cru rasgado das camisas

Uma bandeira penso que transluz!

Com ela sofres, bebes, agonizas;

Listrões de vinho lançam-lhe divisas,

E os suspensórios traçam-lhe uma cruz!

(…)
Lisboa, Inverno de 1878

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